
Carl, Michael, Bangalore, Srinivas and Schaeffer, Moritz (eds.) (2016). New directions in empirical translation process research: Exploring the CRITT TPR-DB [New Frontiers in Translation Studies].
Cham: Springer, pp. 315, €64.25 (e-book)/€81.84 (hardcover). ISBN: 978-3-319-20358-4/978-3-319-20357-7.
New directions in empirical translation process research (Novos rumos para a pesquisa empírica sobre os processos tradutórios) persegue o ideal proposto por Jakobsen de que a utilização de “ferramentas computacionais, estatísticas e analíticas adequadas” (viii) permite produzir “descrições e previsões confiáveis sobre” o processo tradutório, “contribuindo para gerar um modelo da tradução humana baseada em processos” (ibid.). Tais descobertas teriam muitas possíveis aplicações; por exemplo, a adaptação das ferramentas aos estilos de traduzir ou a criação de tecnologias de assistência personalizadas, tais como sugestões terminológicas ativadas pelo movimento ocular.
O livro é uma coleção de 14 capítulos, escritos por 43 autores, e está dividido em três partes. A parte I, intitulada “Pesquisa empírica sobre os processos tradutórios,” contém dois capítulos. No capítulo 1, os editores apresentam uma visão geral do livro e desenvolvem a ideia do que seria ir além da mera descrição para poder explicar e prever os fenômenos tradutórios (3, apud Holmes 1972: 71). Embora o escopo do que se entende por “processo” não esteja delimitado explicitamente, o leitor infere que o livro aborda os processos de tradução em um nível “micro.” Aí se incluem as atividades físicas e cognitivas realizadas pelos tradutores enquanto produzem suas traduções, porém não se incluem os processos “macro,” tais como aqueles envolvidos no ciclo de vida de um projeto de tradução. O capítulo 2 descreve o banco de dados TPR-DB, criado sob os auspícios do Centre for Research and Innovation in Translation and Translation Technology (CRITT) com o intuito de armazenar dados sobre o processo tradutório, ou dados de atividade do usuário (DAU). No final desse capítulo, o apêndice 1 lista os vários estudos armazenados no TPR-DB, com uma breve descrição de cada um deles.
A parte II, “Pós-edição com CASMACAT,” contém cinco capítulos, que relatam os resultados de diferentes experimentos realizados com a ferramenta de tradução baseada em navegador CASMACAT, desenvolvida no âmbito do projeto de mesmo nome, financiado pelo programa FP7 da Comissão Europeia. Os capítulos da parte II demonstram as vantagens de se ter uma ferramenta de auxílio à tradução voltada para a pesquisa, que permite testar diferentes modos de interação com a tradução automática (pós-edição estática, predição interativa, aprendizagem em tempo real e aprendizagem ativa) e oferece a possibilidade de integrar métodos de gravação do teclado e rastreamento ocular, de maneira a facilitar a análise dos DAU.
A parte III, “Modelagem do comportamento tradutório,” contém os sete capítulos restantes do livro e ilustra como os dados brutos contidos no TPR-DB podem ser usados para descrever e prever o comportamento do tradutor.
Os capítulos das partes II e III cobrem uma grande variedade de aspectos da pesquisa sobre os processos tradutórios (PPT). Por exemplo, alguns capítulos analisam como os tradutores consultam as fontes de informação para encontrar suas soluções de tradução, recorrendo a recursos externos (capítulo 6) ou recursos internos fornecidos por uma ferramenta de concordância bilíngue integrada ao CASMACAT (capítulo 7). Outros observam a relação entre entropia sintática e efeitos de pré-ativação (facilitação ou indução) interlinguística para testar a hipótese da tradução literal (capítulos 9 e 10). Outros capítulos descrevem métodos para anotar e marcar os dados processuais (capítulos 8, 12 e 14)
As técnicas utilizadas para coleta de dados nos estudos elencados no livro incluem registro das atividades do teclado e do mouse, gravação da tela e rastreamento ocular. Para o registro de atividades, foram utilizados os programas Translog (capítulo 10), Translog II (capítulos 11, 13 e 14) e Inputlog (capítulo 6), assim como o recurso de registro integrado ao CASMACAT. Vários modelos de rastreadores oculares são mencionados, desde um EyeLink2000 (capítulo 6) até vários modelos Tobii: T60 (capítulo 4), T120 (capítulos 10 e 11) e TX300 (capítulo 14). Dois outros capítulos que utilizam dados de rastreamento ocular não mencionam os modelos com os quais os dados foram capturados (capítulos 5 e 8). Os capítulos que utilizam software de gravação de tela (capítulos 5, 7 e 8) não especificam qual software foi utilizado.
Quanto à análise dos dados, alguns dos métodos utilizados no livro são novos ou ainda pouco consolidados na área de PPT, como técnicas de aprendizagem automática ou análises estatísticas baseadas em regressão linear de efeitos mistos. Alguns desses métodos são mais comuns em disciplinas como Linguística Computacional, Inteligência Artificial e Interação Humano-Computador, o que demonstra o elevado grau de interdisciplinaridade do livro.
A maioria dos autores procura apresentar e explicar os principais conceitos utilizados, embora alguns desses conceitos ainda possam ser de difícil compreensão para quem trabalha com PPT mas não está familiarizado com a terminologia das áreas técnicas das quais provêm muitos dos autores. De fato, os 43 autores do livro possuem origens e formações das mais variadas, fato que se reflete nas suas 24 diferentes afiliações, tanto a instituições acadêmicas como empresas privadas, distribuídas por 15 países. Apesar dessa diversidade, deve-se reconhecer o mérito dos editores por haver mantido uma terminologia relativamente consistente entre os diferentes capítulos, o que facilita o entendimento e contribui para a consolidação da terminologia na área de PPT.
Vale mencionar ainda o fato de os capítulos abordarem cerca de uma dezena de combinações linguísticas, algumas das quais raramente contempladas em outros estudos de PPT, como chinês-português ou francês-polonês. Apesar do carácter inconclusivo ou não generalizável de muitos dos estudos, o livro demonstra as vantagens de se criar um banco de dados para armazenar dados dos processos tradutórios, de modo que o esforço investido em um estudo possa ser aproveitado por outros pesquisadores, talvez enfocando outras variáveis ou utilizando diferentes métodos de análise.
Bibliography
- Holmes, J. S. (1972). “The name and nature of Translation Studies.” Translation section of the third international congress of Applied Linguistics, August 21–26. Copenhagen, 66–79
Carlos S. C. Teixeira
Dublin City University
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